sábado, 23 de janeiro de 2010

Dãh... cientistas sorvetões

19/04/2005 - 09h55

Felicidade faz bem à saúde, dizem pesquisadores

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Já dizia o poeta Vinicius de Moraes: "É melhor ser alegre que ser triste". E a comprovação médica dessa obviedade psicológica acaba de vir de três pesquisadores do University College, em Londres. Eles demonstraram que a felicidade está diretamente ligada ao bom funcionamento do sistema endócrino e cardiovascular.
Claro, o dilema de uma famosa marca de biscoitos é a primeira coisa que chama a atenção nos resultados dessa pesquisa. O sujeito está feliz porque está saudável ou está saudável porque está feliz? Essa é uma boa pergunta. Tão boa, na verdade, que os cientistas, com os dados atuais, não têm condição de responder.
O que os pesquisadores liderados por Andrew Steptoe fizeram foi estabelecer uma correlação clara entre a felicidade e certas medidas indicativas de boa saúde, com base no acompanhamento de 226 londrinos --116 homens e 100 mulheres. Os voluntários foram estudados não só em laboratório mas também na vida cotidiana, trabalhando e de folga.
"Nós usamos simples índices de felicidade que as pessoas nos davam umas 20 a 30 vezes por dia", diz Steptoe. Em cada nova avaliação, o participante tinha de dizer o que andara fazendo nos últimos cinco minutos e como ele classificava seu nível de felicidade no período, numa escala de 1 a 5.
"Desse modo, nossas medidas não dependiam apenas de como alguém se sentia num único ponto do tempo, mas dos níveis médios ao longo do dia."

Novidade

Obviamente, o estudo confirmou resultados anteriores de que as pessoas mais deprimidas ou estressadas têm maior risco de desenvolver problemas médicos. Mas o maior esforço dos cientistas foi tentar descartar justamente isso --as evidências de que ser triste era algo ruim-- e ficar unicamente com o que sobra.
"Sabemos que o desconforto psicológico é relacionado a muitas respostas biológicas", conta Steptoe. "Então, mostrar que a ausência de desconforto estava relacionada a baixas respostas biológicas não seria muito interessante. No entanto, o que descobrimos foi que, mesmo depois que medimos o desconforto e o tiramos da conta estatisticamente, ainda sobra uma associação entre a biologia e a felicidade. Isso indica que a felicidade tem uma relação em separado com a biologia."

Cortisol

Uma relação positiva? Com certeza. De acordo com as medições do trio, algumas correlações fortes foram encontradas entre os mais felizes e os que menos liberavam cortisol na saliva --substância associada a condições como diabetes do tipo 2 e hipertensão-- e outros hormônios da mesma natureza, tinham ritmo cardíaco menor.
Os resultados foram os mesmos, quer os felizes estivessem em seu dia de descanso, no ambiente de trabalho, ou sendo submetidos a desconfortáveis testes de laboratório.
E talvez os sorridentes londrinos não fiquem tão felizes em saber que ainda não estão dispensados pelos pesquisadores. "Estamos interessados em acompanhar nossos participantes ao longo do tempo, para ver se os mais felizes têm menor risco de desenvolver doenças", diz Steptoe.
Os resultados do estudo feito pela equipe do University College foram publicados on-line ontem pela revista Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a "PNAS".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

sábado, 23 de janeiro de 2010

Dãh... cientistas sorvetões

19/04/2005 - 09h55

Felicidade faz bem à saúde, dizem pesquisadores

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Já dizia o poeta Vinicius de Moraes: "É melhor ser alegre que ser triste". E a comprovação médica dessa obviedade psicológica acaba de vir de três pesquisadores do University College, em Londres. Eles demonstraram que a felicidade está diretamente ligada ao bom funcionamento do sistema endócrino e cardiovascular.
Claro, o dilema de uma famosa marca de biscoitos é a primeira coisa que chama a atenção nos resultados dessa pesquisa. O sujeito está feliz porque está saudável ou está saudável porque está feliz? Essa é uma boa pergunta. Tão boa, na verdade, que os cientistas, com os dados atuais, não têm condição de responder.
O que os pesquisadores liderados por Andrew Steptoe fizeram foi estabelecer uma correlação clara entre a felicidade e certas medidas indicativas de boa saúde, com base no acompanhamento de 226 londrinos --116 homens e 100 mulheres. Os voluntários foram estudados não só em laboratório mas também na vida cotidiana, trabalhando e de folga.
"Nós usamos simples índices de felicidade que as pessoas nos davam umas 20 a 30 vezes por dia", diz Steptoe. Em cada nova avaliação, o participante tinha de dizer o que andara fazendo nos últimos cinco minutos e como ele classificava seu nível de felicidade no período, numa escala de 1 a 5.
"Desse modo, nossas medidas não dependiam apenas de como alguém se sentia num único ponto do tempo, mas dos níveis médios ao longo do dia."

Novidade

Obviamente, o estudo confirmou resultados anteriores de que as pessoas mais deprimidas ou estressadas têm maior risco de desenvolver problemas médicos. Mas o maior esforço dos cientistas foi tentar descartar justamente isso --as evidências de que ser triste era algo ruim-- e ficar unicamente com o que sobra.
"Sabemos que o desconforto psicológico é relacionado a muitas respostas biológicas", conta Steptoe. "Então, mostrar que a ausência de desconforto estava relacionada a baixas respostas biológicas não seria muito interessante. No entanto, o que descobrimos foi que, mesmo depois que medimos o desconforto e o tiramos da conta estatisticamente, ainda sobra uma associação entre a biologia e a felicidade. Isso indica que a felicidade tem uma relação em separado com a biologia."

Cortisol

Uma relação positiva? Com certeza. De acordo com as medições do trio, algumas correlações fortes foram encontradas entre os mais felizes e os que menos liberavam cortisol na saliva --substância associada a condições como diabetes do tipo 2 e hipertensão-- e outros hormônios da mesma natureza, tinham ritmo cardíaco menor.
Os resultados foram os mesmos, quer os felizes estivessem em seu dia de descanso, no ambiente de trabalho, ou sendo submetidos a desconfortáveis testes de laboratório.
E talvez os sorridentes londrinos não fiquem tão felizes em saber que ainda não estão dispensados pelos pesquisadores. "Estamos interessados em acompanhar nossos participantes ao longo do tempo, para ver se os mais felizes têm menor risco de desenvolver doenças", diz Steptoe.
Os resultados do estudo feito pela equipe do University College foram publicados on-line ontem pela revista Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a "PNAS".

Nenhum comentário:

Postar um comentário